
Aos 4 anos e 6 meses, Marina havia se tornado uma criança “insuportável”. Ela tinha atitudes desafiadoras e parecia fazer travessuras de propósito. Aquela criança com carinha de anjinho só podia ser muito inteligente, tão inteligente a ponto de conhecer as fraquezas de seus pais. De uma forma bem velada, os pais gostavam de ver que ela não se submetia à autoridade e avaliavam Marina como tendo uma personalidade forte. Mas as coisas pareciam fugir ao controle destes pais e piorou muito quando Marina entrou na escola aos 4 anos, além de desafiar a professora ainda dava-lhe chutes na canela, e demonstrava inabilidade no convívio com as outras crianças, por vezes era agressiva ou bagunçava a brincadeira deliberadamente.
As queixas da escola se tornaram freqüentes, a intervenção dos pais usando estratégias punitivas não trouxe resultados, e as mães das outras crianças começaram a reclamar. Aos cinco anos Marina estava em pleno processo de pré-alfabetização, verbalmente demonstrava habilidades cognitivas, mas se negava a fazer as tarefas propostas em sala de aula e em casa. A situação ficou insustentável quando a criança começou a usar palavrões para intimidar os outros e demonstrar curiosidade sexual exacerbada.
Marina é uma criança com Transtorno Afetivo Bipolar diagnosticado pelo psiquiatra com auxílio de um psicodiagnóstico feito por psicóloga. Este transtorno é caracterizado por instabilidade de humor, ora deprimido, ora eufórico. Os sintomas mais frequentes na infância são irritabilidade, baixa tolerância à frustração, mal-humor, agressividade episódica, alegria e riso exagerados, agitação motora, alterações do sono e desmedido entusiasmo. Marina deixava seus pais muito confusos, às vezes pulava em cima deles, enlaçava-se no pescoço e dava tantos beijos que chegava a machucá-los. Eles se sentiam muito mal em ter certa resistência às manifestações de afeto da criança, se sentiam pouco amorosos ao afastar a criança dizendo que ela estava machucando. O sentimento de culpa lhes abatia ao ver Marina sentadinha numa poltrona, encolhida com o dedo na boca, ela parecia tão frágil que eles não entendiam como de um momento para o outro ela reagia de forma violenta a um episódio banal. A ajuda profissional foi fundamental para minimizar as consequências das inadequações comportamentais e a instabilidade de humor da criança, e o trabalho psicoeducativo junto a família possibilitou intervenções assertivas e suporte emocional.
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