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Conversando com a Luiza



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terça-feira, 23 de junho de 2009

NEM SEMPRE O PROBLEMA É FALTA DE LIMITE...


Lucia aguardava na sala de espera com um saquinho de bolacha de água e sal e tinha migalhas da bolacha em sua roupa e nos cantos da boca e parecia não se incomodar com isso. Quando a chamei para entrar na sala de avaliação comigo, embolou o saco de bolachas como se estivesse vazio, parecia fazer este movimento sem consciência dele, como se a sua mão funcionasse dissociada do resto de seu corpo. Deixou o saco em cima da cadeira e me acompanhou. Durante o curto percurso Lucia falou que não havia gostado do horário proposto, que não queria ir mais ao reforço escolar, que alguns coleguinhas a irritavam e que gostava de assistir novela, todos estes temas em trinta segundos. Apesar de aparentemente desejarm copo de água. uma intervenção minha em seus relatos, Lucia emendava uma coisa na outra sem me dar a oportunidade de falar. Já dentro da sala retomei alguns temas com ela, que não haviam ficado claros, já que ela não os apresentou ordenadamente, mas Lucia já não estava mais interessada em conversar sobre estes assuntos.
Mostrei-lhe uma caixa com brinquedos e Lucia começou a tira-los da caixa e espalhá-los pelo chão, sem brincar com nenhum deles levantou-se e pediu para desenhar. Na folha traços, erros, reinicio, erros, vira a folha do outro lado, pois deste lado está muito marcado e finalmente desistência. O desenho não ficou bom. Observando o movimento de Lucia, parecia que primeiro ela fazia o traço e depois pensava o que poderia ser, sem planejamento não conseguiu um resultado que lhe agradasse.

Resolvemos jogar uno. Lucia não conseguia esperar a sua vez, se mexia na cadeira, levantava, sentava, cruzava as pernas, deixava cair as cartas de sua mão e em alguns momentos parecia desconhecer as regras do jogo que eram conhecidas até a jogada anterior. Reclamava do jogo e dizia que não era justo eu acertar as jogadas.
Na ocasião esta criança tinha 7 anos e 3 meses e estava tendo muitas dificuldades no processo de alfabetização, em casa era uma criança agitada, falava gritando e tinha acessos de raiva quando contrariada, mas estes comportamentos não chamavam tanto a atenção da família, já que seus irmão se comportavam da mesma maneira. Os pais avaliavam tais condutas como crianças “extremamente mimadas”. Em entrevista na escola, a professora relatou que Lucia levantava-se da cadeira em situações que se espera que permaneça sentada, não conseguia desenvolver suas atividades em silêncio, não conseguia aguardar sua vez durante dinâmicas de grupo, interrompia a professora durante explicações para falar de outro assunto, seu material em cima da mesa ficava desorganizado, deixava cair lápis, estojo, caderno e não conseguia fazer uma tarefa até sua finalização, obviamente não conseguia manter a atenção em atividades, inclusive em atividades lúdicas. Finalmente após uma profunda investigação, o resultado foi de que Lucia era portadora de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, diagnóstico de 5% a 13% das crianças em idade escolar, estimativa indicada pelo DSM-IV. Muitos estudos vem sendo feitos sobre a etiologia do TDAH, e o que se tem hoje é o conhecimento de fatores genéticos e ambientais. O problema está localizado no mal funcionamento das funções executivas responsáveis por atividades altamente sofisticadas, que capacitam o indivíduo ao desempenho de ações voluntárias, auto-organizadas e orientadas para metas específicas. São os processos responsáveis por focalizar, direcionar, regular, gerenciar e integrar funções cognitivas, emoções e comportamentos visando a realização de tarefas simples como tomar iniciativa, estabelecer prioridades ou organizar-se para um trabalho.
O diagnóstico do TDAH é fundamentalmente clínico, é de extrema importância uma profunda investigação do histórico da criança, da sua gestação até os dias atuais. Avaliações complementares são necessárias como das capacidades auditivas e visuais, avaliação neurológica e neuropsicológica, assim como avaliação psicopedagógica e pedagógica.
As informações da escola são importantes para o diagnóstico. Tendo sido confirmado, os professores devem ser orientados, pois uma intervenção adequada pode minimizar os sintomas do transtorno, principalmente em relação ao comportamento da criança.
Neste caso, a criança foi medicada pelo neurologista, encaminhada para terapia psicopedagógica. Seus pais e a escola receberam orientação quanto o manejo das dificuldades de Lucia.
Em função das dificuldades apresentadas pela criança em sala de aula as sugestões para a professora foram: manter uma rotina constante e previsível evitando improvisações, aulas expositivas com ilustrações com o objetivo de capturar sua atenção, a professora deve agir como uma “organizadora auxiliar”, embora o estudante deva ter responsabilidade por sua organização pessoal, a professora deve saber que há algumas limitações inerentes às crianças com TDAH, usar vários critérios de avaliação que considerem seu progresso individual em vez de compará-la à média da turma. Uma das metas das orientações para sala de aula é de ajudar Lucia a se ajustar às suas dificuldades e se sentir confortável em ser um pouco diferente, promovendo pequenas modificações em seu estilo de vida.


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